MOACIR GADOTTI




Moacir Gadotti

Concepções de Escola, Ensino e Aprendizagem

EDUCAÇÃO: UM ATO POLÍTICO

Para o autor, Paulo Freire é uma referencia obrigatória para todo pensador em educação no Brasil hoje, estando de acordo ou não com seu pensamento. Pois foi ele um dos primeiros a romper com o pensamento pedagógico oficial contribuindo para uma elaboração de um pensamento pedagógico novo, elaborado, ousado, crítico e radical.
Em seu livro Pensamento Pedagógico Brasileiro Gadotti (1998, p. 74) aborda um roteiro básico sobre as várias sistematizações teóricas existentes que tesem o pensamento pedagógico brasileiro, enfoca o papel do educador, do professor, da escola, da formação e do saber, hoje, em nossa realidade, refere que não há uma educação tão somente reprodutora do sistema e nem uma educação tão somente transformadora desse sistema. Essas duas tendências coexistem no plano educacional numa perspectiva dialética e conflituosa. 
Acredita em uma escola que se preocupa com a participação do estudante que busca com o intuito de construir saberes, integridade com a comunidade de forma democrática e política além da preocupação também da inclusão do sujeito cidadão. Todas as expectativas surgem com o conformismo de educadores e não educadores devido a insatisfação da rede pública de ensino. 
De acordo com Gadotti “O conhecimento novo é resultado de um longo processo em construção do indivíduo”.  A Educação é fundamental para a formação do cidadão é um fator relevante para a construção do indivíduo.
O autor defende a concepção de Paulo Freire, aborda a escola como um espaço físico onde devem existir conversas, confrontos, discussões sobre política gerando insatisfações, pois o contrário deixa de ser autoritária para ser harmoniosa, sendo assim ela tem exercido um papel fundamental nas relações sociais e culturais. 
Sendo que cada escola tem sua própria história, uma não é igual à outra, devido à comunidade a qual está inserida e a cultura que cada uma vivencia.
 Como afirma Gadotti:
“É na escola que passamos os melhores anos de nossas vidas, quando crianças e jovens. A escola é um lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola onde falta tudo. Mesmo faltando tudo nela existe o essencial: gente, professores e alunos, funcionários, diretores. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. Por isso, precisamos falar mais e melhor das nossas escolas, de nossa educação”. (GADOTTI, 2008 p. 02) 
A interação não está somente dentro da escola, está ligada também a relação que mantém com outras instituições, sendo a família o primeiro grupo social no qual a criança faz parte.
 Cada escola tem sua particularidade em relação aos projetos e agentes conduzindo na produção da identidade individual e social dos educandos, para se tornarem críticos e autônomos. Desta forma a escola forma cidadão para viver na comunidade de maneira democrática e política, sendo uma escola cidadã. 
 No livro Pedagogia da práxis Gadotti (2001, p. 266-267) explica sua concepção sobre “Decálogo da Escola Cidadã” no qual apresenta dez aspectos indispensáveis para o desenho dessa escola.
Primeiro aspecto apresentado por Gadotti é que escola acima de tudo tem que ser democrática, permitir que o estudante tenha acesso e permanência no contexto escolar. Oportunizar a elaboração de cultura no processo educativo.
Segundo aspecto, escola tem que ser autônoma. “Para ser autônoma, não pode ser dependente de órgãos intermediários que elaboram políticos dos quais ela é mera executora”.
Terceiro aspecto, “A escola cidadã deve valorizar o contrato de dedicação exclusivo do professor”. Segundo Gadotti a escola deve proporcionar condições de trabalho de forma apropriada para o docente e não permitir que o mesmo leve para casa atividades extraclasse, o contrario considerar com carga horária de trabalho.
Quarto aspecto é chamado de “Ação direta”, à valorização dos projetos escolares e propostas dos responsáveis que compõem o contexto escolar.
Gadotti afirma no quinto aspecto “A escola autônoma cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o desejo pela leitura e pela produção de textos escritos ou não”. Esta escola focaliza princípios de cidadania, permitindo um aprendizado criativo e questionador.
No sexto aspecto Gadotti afirma que uma escola cidadã “É uma escola disciplinar”. Neste aspecto mostra a necessidade da disciplina para que haja direção progressiva no contexto escolar.
Sétimo aspecto, “A escola não é mais um espaço fechado. Sua ligação com o mundo se da com trabalho”. Neste aspecto a visão da escola cidadã está envolvida com a classe trabalhadora, possibilitando ao educando adquirir experiências com o mundo exterior.
Oitavo aspecto, “A transformação da escola não se dá sem conflitos”. O termo conflito é usado por Gadotti para demonstrar que a transformação da escola se dá com ato político e democrático.
Nono aspecto, “Não há duas escolas iguais”. Isto quer dizer que cada instituição tem as identidade e pluralidade de saberes, ou seja, as escolas são diferentes.
No décimo aspecto Gadotti destaca que “Cada escola deveria ser suficientemente autônoma para poder organizar o seu trabalho de forma que quisesse, inclusive controlando e exonerando a critério do conselho da escola”. Nesse aspecto evidencia que a escola tem que ter autonomia e democracia, a fim de buscar a origem do problema para conduzir a solução capaz de manter a organização do âmbito escolar. 
Para Gadotti a escola do século XXI precisa adequar aos educandos, professores capacitados com formação continuada atualização em novas metodologias pedagógicas ou aprendizagem das últimas inovações tecnológicas. A instituição deve também dar subsídios para que os educadores possam refletir sobre sua metodologia de ensino, seus projetos de vida, e sobre tudo desenvolver os projetos políticos pedagógicos, sendo essencial no processo ensino-aprendizagem.
Como declara Gadotti:
“Espera-se do professor do século XXI que tenha paixão de ensinar, que esteja aberto para sempre aprender, aberto ao novo, que tenha domínio técnico-pedagógico, que saiba contar estórias, isto é, que construa narrativas sedutoras para seus alunos. Espera-se que saiba pesquisar, que saiba gerenciar uma sala de aula, significar a aprendizagem dele e de seus alunos. Espera-se que saiba trabalhar em equipe, que seja solidário”. (GADOTTI, 2008 p. 04) 
Segundo Gadotti (2000, p.9) “O educador é um medidor do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação”. Ele media no processo de construção de conhecimento, também precisa ser curioso e despertar a curiosidade, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentido para o que fazer dos alunos.
O ensino e a pesquisa são fatos inseparáveis, um não acontece sem o outro o aluno aprende quando o professor aprende. E o professor também aprende com o aluno.
Como declara Gadotti: “Para que ocorra um bom desenvolvimento no processo de ensino aprendizagem requer que o educador se empenhe e esteja sempre pesquisando, buscando melhorias e ideias inovadoras.”
Nessa perspectiva a educação se depara com grandes desafios com isso vivemos numa sociedade de múltiplas oportunidades que envolvem aprendizagem chamada de “sociedade aprendente”, aprender a desenvolver autonomia, ser bom pesquisador, compartilhar e desenvolver o raciocínio lógico, ser disciplinado, organizado, saber articular o conhecimento com a prática e com uso de saberes. 
“A beleza existe em todo lugar. Dependendo do nosso olhar, da nossa sensibilidade; depende da nossa consciência, do nosso trabalho e do nosso cuidado. A beleza existe porque o ser humano é capaz de sonhar.”Moacir Gadotti.
Para que ocorra uma boa aprendizagem, o professor precisa ensinar com alegria, sem esquecer o que ele é, ainda que seu trabalho não seja reconhecido como deveria, precisa se empenhar, estar sempre pesquisando, buscando melhoras para auxiliar seus educandos em prol do conhecimento. Como declara Gadotti:
“Para que o ensino se torne de qualidade é preciso à interação e maior participação de pais ou responsável no processo ensino-aprendizagem, favorecendo assim ambas as partes envolvidas nesse processo. Caso não haja essa interação e, sobretudo a participação dos alunos poderá ocorrer o fracasso educacional”.         

Durante sua historia escolar o aluno se depara com diferentes conteúdos sem entender o porquê e pra que, sobre isso a escola precisa conscientizar os alunos de sua fundamental importância que será utilizada na construção do seu projeto de vida, tanto individual e coletiva.
Sendo assim uma escola de maior autonomia ela será também, de maior capacidade para chegar a um padrão nacional de qualidade de ensino.
O professor deve construir sua identidade docente, não esquecendo que um dia foram crianças, e que por isso devem se colocar no lugar dos seus alunos, compreendendo-os, pesquisando e valorizando seus sonhos, respeitando a especificidade de cada educando, para que tenham um projeto de vida. 
Educar é sempre repassar sentidos, é através das experiências vivenciadas no âmbito escolar como na vida cotidiana o indivíduo passa a entender e transformar o mundo ao qual estar inserido e a si mesmo. Educar é não se omitir e mostrar a realidade, é conduzir o educando a tomar decisões, a lutar, duvidar, desequilibrar, auxiliar seus alunos em prol do conhecimento. Como declara Gadotti: “Para que ocorra um bom desenvolvimento no processo de ensino aprendizagem requer que o educador se empenhe e esteja sempre pesquisando, buscando melhorias e ideias inovadoras.”
Quanto à aprendizagem o professor tem uma grande responsabilidade, usar de estratégias para que o aluno adquira o conhecimento, sem esquecer que tanto um como outro serão sempre aprendizes.
 Aprender não é acumular conhecimento. Aprendemos história não para acumular conhecimento, datas, informações, mas para saber como os seres humanos fizeram a história para fazermos história. O importante é aprender a pensar (a realidade, não pensamentos), aprender a aprender. (GADOTTI, 2008 p.10)
O projeto social e político é um forte aliado neste aspecto através dele podemos construir ideias favoráveis para um aprendizado que transforme o ambiente escolar.
O professor deve ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que deve fazer dos seus alunos dando-lhes condições de construir e reconstruir seus conhecimentos a partir do que faz. 
A educação tem por excelência o diálogo. Portanto é necessário que haja interação entre educador e educando, uma troca de aprendizagem onde o educador não deve se colocar na posição de detentor do saber, "daquele que sabe tudo", pois se faz necessário ser humilde e estar sempre aprendendo com seus educandos. 
 O educando por sua vez precisa ser participativo, lutar contra si mesmo, contra a ideologia de que ele está na escola para receber um conteúdo programado, pronto, e que ele não pode contestar expor suas ideias. Pois ele deve sim opinar durante as aulas, expor suas concepções, o que pensa sobre aquele determinado conteúdo, exposto em aula, de forma respeitosa junto ao professor. É assim que nasce a escola participativa, mediadora onde o aluno dialoga com o professor, e ambos em harmonia chegarão ao domínio do conhecimento de mãos dadas, trocando saberes em um sistema de educação prazeroso para todos.  
Para abordar o papel de educadores na sociedade atual temos que entender como foi se constituindo historicamente. De acordo Gadotti (1998), os cursos de formação de pedagogia, foram regulamentados no Brasil em 1969 no período da ditadura militar, o educador passivo, apolítico, fora do contexto ao qual esta inserido. Dessa forma, oferece capacitações para supervisão, orientação, administração, inspeção e planejamento totalmente tecnicista.
Muitos educadores que se encontram em sala de aula atualmente passaram por todo sistema da ditadura, necessitam sempre refletir, questionar e rever sua prática pedagógica para não cair em um ciclo vicioso de reprodução.
Para Gadotti (1998, p. 71). “É preciso ser desrespeitoso, inicialmente, consigo mesmo, com a pretensa imagem do homem educado, do sábio ou mestre. E é preciso desrespeitar também esses monumentos da pedagogia, da teoria da educação, não porque não sejam monumentos, mas porque é praticando o desrespeito a eles que descobriremos o que neles podemos amar e o que devemos odiar. [...]. Nessas circunstâncias, o educador tem a chance de repensar o seu estatuto e repensar a própria educação. O educador, ao repensar a educação, repensa também a sociedade”.
De acordo com Paulo Freire, que já proclamava desde os anos 60, e de acordo com Gadotti (1998, p.72), a educação não é neutra. Ou se educa para o silêncio, para a submissão, ou com o intuito de dar a palavra, de não deixar calar as angústias e a necessidade daqueles que estão sob a responsabilidade, mesmo que temporária, de educadores nos setores escolares.Métodos e técnicas precisam ser secundarizados na discussão sobre a educação, o que se deve atentar prioritariamente é sobre a vinculação entre o ato educativo, o ato político e o ato produtivo.
Nessa perspectiva, os educadores têm um papel sobre tudo político e precisam problematizar a educação, buscando o porquê e o para quê do ato educativo, trabalhar o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o conflito para sua superação dialética.
                                                                                                                                                                    

Sendo assim nas palavras do autor:[...] há uma contradição interna na educação, própria da sua natureza, entre a necessidade de transmissão de uma cultura existente – que é a tarefa conservadora da educação e a necessidade de criação de uma nova cultura, sua tarefa revolucionária. O que ocorre numa sociedade dada é que uma das duas tendências é sempre dominante.
Atualmente não devemos esperar  que a educação pode mudar se não houver mudanças estruturais no sistema.  Devemos nos ater ao pensamento de Gadotti onde aponta que a educação não pode sozinha transformar a sociedade em questão, para ele nenhuma mudança estrutural pode acontecer sem a sua contribuição. A transformação social, que muitos anseiam para uma sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde todos tenham voz e vez, só serão possíveis a partir do momento que se evidenciem os conflitos, não tentando escondê-los ou minimizá-los, para que assim a educação não contribua como mecanismo de opressão, buscando a superação e não a manutenção do status quo.






BIOGRAFIA DE MOACIR GADOTTI


Nasceu em Rodeio, Santa Catarina, em 1 de outubro de 1941, é um dos mais respeitados educadores brasileiros.


Licenciado em Pedagogia (1967) e em Filosofia (1971). Mestrado em Filosofia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, 1973), Doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Genebra (Suíça, 1977) e Livre Docência na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 1986). Em 1991 prestou concurso para Professor Titular na Universidade de São Paulo. Foi professor de História e Filosofia da Educação em cursos de graduação e pós-graduação em Educação e Filosofia de diversas instituições, entre elas a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas e a Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Desde 1988 é professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, atualmente está aposentado por esta Universidade, após 46 anos de magistério, mas continua dando aula e orientação na pós-graduação.
Autor de muitos livros, alguns em parceria com Paulo Freire, com quem estudou nos anos 70, na Suíça.
Publicações em que desenvolve uma proposta educacional cujos eixos são a formação crítica do educador e a construção da Escola Cidadã, numa perspectiva dialética integradora da educação e orientada pelo paradigma da planetariedade.
Foi assessor técnico da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (1983-1984) e Chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo (1989-1990), na gestão de Paulo Freire.
Atualmente diretor do Instituto Paulo Freire que ele ajudou a fundar em 1992. Trabalhou na redação da Carta da Terra – tratado internacional que contém princípios éticos para a vida no século 21, e defende o uso dessa Carta nas escolas e universidades, para Moacir a Carta da Terra Internacional é um documento é uma ferramenta essencial para a transformação do mundo em um lugar justo e pacífico.
  


Suas principais Obras:


  •          Reinventando Paulo Freire no Século 21 - 2008
  •          Convocados, Uma Vez Mais: Ruptura, Continuidade e Desafios do Plano de Desenvolvimento da Educação - 2008
  •          Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido – 2007
  •          Escola Cidadã: uma Aula sobre Autonomia da Escola - 2002
  •          História das Ideias Pedagógicas (em espanhol) - 2002
  •          Um Legado de Esperança -2001
  •           Os Mestres de Rousseau (Cortez, 2004)
  •          Perspectivas Atuais da Educação (em espanhol)- 2000
  •          Perspectivas Atuais da Educação - 2000
  •          Pedagogia da Terra - 2000
  •          Autonomia da Escola - 1997
  •          Paulo Freire: Uma bibliografia (Cortez, 1996)
  •          Pedagogia da Práxis (em inglês) - 1996
  •          Pedagogia da Práxis (Cortez, 1995)
  •          Histórias das Idéias Pedagógicas (Ática, 1993)
  •          Escola Vivida, Escola Projetada - 1992
  •          Marx: Transformar o Mundo. (FTD, 1989)
  •          Educação e poder. (Cortez, 1988)
  •          Pedagogia: Diálogo e Conflito - 1985
  •          Educação e compromisso. (Papirus, 1985)
  •          Concepção Dialética da Educação: um Estudo Introdutório - 1983
  •          Educação e Poder: Introdução à Pedagogia do Conflito – 1980
  •          Pensamento Pedagógico Brasileiro - 2009

 Referências:
Imagens: Google
Wikipédia. Moacir Gadotti
LOPES, Artur Júnior dos Santos. Perspectivas da educação na visão de Moacir Gadotti.
GADOTTI, Moacir. Reinventando Paulo Freire no Século 21. São Paulo: Livraria e Instituto Paulo Freire, 2008.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: Ensinar-e-aprender com sentido. São Paulo: Livraria e Instituto Paulo Freire, 2008.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Práxis. São Paulo: Cortez Editora, 2004.
GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro 8  ed. São Paulo: Editora Ática, 2009.

Atividade 2 de PPP III

Equipe:
Aline Margarete Andrade Silva
Cristiane Dutra
Maria Aparecida
Renata Mesquita





















Um comentário:

  1. Muito boas as informações que deixam sobre este importante teórico na educação. Vamos continuar com este blog, porque ele vai servir muito para os próximos semestres no compromisso com a educação.
    Patricia Paim

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